Resenha | Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues – Eric Novello

Capa ExorcismosTÍTULO: Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues
AUTOR: Eric Novello
EDITORA: Gutenberg
PÁGINAS: 336
COMPRAR: Saraiva | Submarino

 

 My happy little pill | Take me away, dry my eyes | Bring color to my skies
My sweet little pill | Take my hunger, lie within | Numb my skin


Narrativas superficiais, personagens sem personalidade e histórias clichês são alguns dos grandes problemas que assolam a literatura atualmente.
Livros onde o autor não gera emoção no leitor e faz a leitura ser só mais um passatempo chato para desocupados parecem se multiplicar como Gremlins.

Há um bom tempo eu estava bem desanimado para começar a ler qualquer livro por esses e outros diversos motivos. Tudo parecia ser o mesmo miojo sem tempero, feito em três minutos só pra dar uma enganada na fome.
Mas em meio a esse mundo de histórias mal escritas, ler o Exorcismo foi uma surpresa maravilhosa. Enquanto a maioria dos livros demora em torno de 20, 30, 50 ou até 100 páginas para se tornar realmente interessante, isso quando se torna, o autor conseguiu na primeira página chamar minha atenção. Ao invés de me deparar com um miojinho sem sal, parecia que eu havia sentado em uma mesa de banquete, repleta de fartura, com os mais diversos tipos de texturas e sabores.

O livro conta a história de Tiago Boanerges, um exorcista que trabalhava no Conselho de Hórus, mas foi expulso após se envolver com uma Musa, esta que deveria ter exorcizado do corpo de Liz, uma cantora com um público adolescente gigantesco.
A história se desenrola à partir do momento que começam a surgir boatos que a Musa está de volta ao Plano Físico em busca de vingança e um representante do Conselho vem até Tiago e abre para ele uma oportunidade de retorno, para se redimir e fazer corretamente tudo o que não havia feito antes devido a sua paixão pela Musa. Mas é óbvio que tudo não será tão fácil. A Musa volta mais ardilosa do que nunca.

EADB tem uma narrativa fluída, cativante e incômoda. Mas no bom sentido.
A curiosidade que o Eric consegue ativar no leitor é irritante. Ela te deixa louco por mais, para desvendar os segredos, para dar um fim a agonia de não ter uma memória fotográfica que absorva as páginas em uma única batida de olho. Os dedos coçam para pular as páginas mas os olhos não são capazes de desgrudar das folhas amareladas. Como se cada detalhe fosse importante, como se uma única letra perdida fosse afetar todo o desenvolvimento e entendimento da narrativa.

É incrivel a maneira como tudo é descrito, desde os cenários até as emoções dos envolvidos na trama. O autor faz o espectador conhecer cada membro do Cast e se afeiçoar a eles, o conecta as emoções de cada um e torna o leitor parte da história. Cada alegria, cada sofrimento atige não apenas os personagens, mas também quem ansiosamente vira as páginas.

A aura do livro é pesada, envolta numa névoa Noir com toques de Blus, o clima perfeito para elevar a adrenalina de quem acompanha tudo. O alerta de perigo iminente fica sempre aceso e, conforme a narrativa chega ao fim, simplesmente explode tamanha a tensão.

Tiago Boanerges (primeira vez que me lembro do nome de quase todo o elenco de um livro sem ter que ficar consultando a sinopse) é um cara guerreiro, atormentado e principalmente, humano, assim como Julia, Liz e todos os outros (Humanos). Cada um deles tem suas tristezas, alegrias e temores, esqueletos no armário que se revelam no momento certo e geram cada vez mais afinidade com o leitor. O autor sabe dar detalhes importantes da trajetória de cada um até o presente momento de forma que eles se tornam cada vez mais palpáveis, digo que qualquer leitor seria capaz de abrir uma conta fake no facebook e criar um perfil completamente plausível (Exceto é claro, pelas possessões e exorcismos de Musas, Idas ao Entremundos e Quase morte por Peste Negra) para eles.

São PaulERROR… Libertà, a cidade onde se passa a maior parte da trama, é muito bem descrita, assim como as alusões aos outros reflexos paralelos, incluindo o Entremundos que liga todos eles. O autor consegue criar um Universo novo tão palpável que é possível se imaginar pegando um bus pra lá (e se você tiver condições, um avião), ou um portal em um espelho nos fundos do cinema mais próximo da sua casa.

Vejo muitos autores que tentam criar versões “Dark” de Alice no País das Maravilhas, mas sempre achei que eles nunca conseguiam realmente deixar os personagens “Maus”. No EADB é diferente, vemos uma realidade realmente assustadora e palpável de personagens como o Chapeleiro Maluco e outras nem tanto, como o gato de Cheshire, que no EADB é Ori (O qual, inclusive, estou procurando pra adotar), a Lebre e a Lagarta do Jardim das flores falantes. É perceptível que o autor não foi lá e apenas criou uma cópia barata dos personagens de Carrol, mas sim os fez renascer seguindo as regras de seu Próprio Universo, como se fossem reflexos (Melhores) do mundo da pequena Alice.

Pra resumir (ou vou escrever um livro com tanta coisa que tenho pra falar sobre o EADB), Exorcismos é um livro bem Marafoescrito, cativante, adorável em certos momentos, medonho e causador de paradas cardíacas em outros. Que consegue apresentar uma ideia inovadora num mundo de Ctl+C Ctrl+V, capaz de te prender da primeira a última página e (não exatamente) te libertar sedendo por mais…

PS: O Marafo do Neon Azul aparece novamente na história, mais fofo e macabro do que nunca. Vou mandar imprimir uma camiseta #TeamMarafo, pq eu definitivamente estou apaixonado por ele. <3

Confira a playlist feita pelo Eric com as músicas que aparecem durante o livro >.<

Um comentário sobre “Resenha | Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues – Eric Novello

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